31 de maio de 2011

O sinal da cruz no início da liturgia

Fonte: Blog Canção Nova
Por: Frei José Ariovaldo da Silva, OFM

O sinal-da-cruz no início da Liturgia é (como tantas outras) também uma ação ritual litúrgica e, por isso mesmo, carregada de profundo sentido humano, teológico e espiritual.

Antes de tudo é preciso ver essa ação litúrgica como uma ação integrada no contexto dos ritos iniciais da celebração, que têm sua finalidade bem precisa, indicada no n.46 da Instrução Geral sobre o Missal Romano, a saber: “fazer com que os fiéis, reunindo-se em assembleia, constituam uma comunhão e se disponham para ouvir atentamente a Palavra de Deus e celebrar dignamente a Eucaristia”.

Como se vê, a finalidade dos ritos iniciais é, em outras palavras, fazer com que os fiéis, sentindose assembleia litúrgica, façam a experiência de estarem em comunhão de fé e amor (entre si e, juntos, com Deus: Trindade santa) e, assim, se sintam bem dispostos a ouvir “atentamente” a Palavra e celebrar “dignamente a Eucaristia”.

E o sinal-da-cruz, neste contexto? É a primeira ação litúrgica, pela qual, (digamos assim) se “abre a sessão”, ou então, se constitui “oficialmente” a assembleia. É como se a pessoa que preside dissesse assim: “Em nome da Trindade santa (Pai, e Filho e Espírito Santo) declaro (declaramos) constituída esta assembleia litúrgica”. E toda a assembleia expressa o seu assentimento, dizendo: “Amém” (assim seja, aprovado!). Assim, junto com a saudação presidencial subsequente e a resposta do povo, se expressa (como diz a Instrução geral) “o mistério da Igreja reunida” (n.50). No fundo, o que se quer dizer é isso: “a partir desse instante, está constituída a assembléia litúrgica: Quem nos reúne em comunhão de fé e amor para ouvir a Palavra e celebrar a Eucaristia é o Deus comunhão (Pai, e Filho e Espírito Santo), e mais ninguém. Neste Deus comunhão (por pura graça d’Ele) todos nós estamos em comunhão, formando um só corpo místico para celebrar a divina Liturgia, na qual somos ‘tocados’ pelo seu amor misericordioso em todos os âmbitos do nosso ser”.

Por isso, proclamando que quem nos reúne é a Trindade santa, nós tocamos o nosso corpo em forma de cruz. Esse “toque” tem um sentido simbólico e espiritual profundo. Por ele, no fundo, testemunhamos que, pelo mistério pascal (cruz e ressurreição) fomos (e somos!) “tocados” pelo amor da Trindade. Vejam o que o monge beneditino Anselm Grün, escritor e místico moderno, escreve sobre o sinal-da-cruz no início da Liturgia eucarística! Diz ele: “Ao traçar sobre si mesmos o sinal-da-cruz, os participantes ‘entram-no-jogo’, se convertem em atores do ‘jogo-visão’ (teatro). Já no primeiro século, os cristãos se marcavam com a cruz.

Ao fazê-lo, é como se talhassem ou gravassem em todo o seu ser o amor com que Jesus Cristo nos amou até o fim, morrendo por nós na cruz. (Ao traçar sobre nós a cruz) nós a burilamos em toda a amplitude do corpo: sobre a fronte (os pensamentos), no baixo ventre (a vitalidade, a sexualidade), sobre o ombro esquerdo (o inconsciente, o feminino, o coração), sobre o ombro direito (o consciente, o masculino, o agir). Ao fazer o sinal-da-cruz, asseguramos e antecipamos aquilo que celebramos na Eucaristia: que seremos tocados pelo amor de Cristo e que nada em nós fica excluído deste amor. Na Eucaristia, Jesus Cristo imprime o seu amor salvador e libertador em todos os âmbitos de nosso corpo e de nossa alma, para que tudo em nós espelhe sua luz e seu amor” (La Eucaristia como obra de teatro, como “teatro-visión” e teatro-juego”. In: Cuadernos Monásticos n.147,2003, p.439-440).

Portanto, fica claro que o sinal-da-cruz no início da Liturgia não tem nada a ver com “invocação” à Santíssima Trindade, como muitos pensam. Não tem sentido chamar esta ação litúrgica de “invocação” à Trindade. Pois é Ela que, por gratuita iniciativa sua já nos reúne em assembleia para, em comunhão de fé e amor, ouvirmos “atentamente” a Palavra e celebrarmos “dignamente” a Eucaristia... Simplesmente celebrarmos o fato de ser Ela que nos reúne para sermos “tocados” pela presença viva do Senhor, na Palavra e no Sacramento.

Liturgia em mutirão
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